segunda-feira, 25 de agosto de 2008

*Após duas semanas*



Essas últimas semanas tem sido de aprendizado profundo.
Sei que minhas limitações lingüísticas impedirão que a profundidade dos meus sentimentos seja captada ao longo dessa leitura, e diante disso, só me resta pedir desculpas.
Não encontrei tradução melhor para parte das minhas percepções sobre o Encontro Ágape, como as do último capítulo de "O Evangelho Maltrapilho", que em breve eu postarei aqui, acrescentando minhas notas ao texto. Encontro Ágape que ainda deixa meu coração arritmico, meus olhos lacrimejantes, minha sensação de impotência gritante!

O que venho dizer hoje são das palavras que eu realmente não sei dizer, só sei sentir.
O viver da magnitude de Deus, a esperança na sua misericórdia, as suas demonstrações de amor através de gestos tão simples, como a pomba.
O que tento escrever é sobre o valor da amizade...Amizade com o Senhor! Amor pelo Senhor! Vida do Senhor!
O que falo é do consolo, vivido no mais profundo da alma, que me faz entender um pouco do incompreensível amor de Deus.

Parece que foi hoje, as cenas correm em minha mente, mais intensamente do que o normal. São pensamentos que eu realmente não me preocupo em ter, não me preocupo em dizer para que saiam daqui, e com um fundo musical que não me incomoda. Realmente, é como se tudo tivesse acontecendo agora, sinto os cheiros, os sabores, as dores.

Naquela sexta-feira, dia 15, todos foram para um aniversário...eu optei pelo Giper. Não me arrependo, tento amar, tento entender, tento transmitir. Numa divina revelação do céu, numa vizualização real da proteção do Senhor, vi os anjos dele ao nosso redor, em torno da kombi branca, nos guardando daquele menino que tinha um misto de cheiro de cola, tinner e sujeira. O nome dele, Júlio. Só o nome dele é bonito? Não! Ele é lindo, pois é criação do Pai. Só pude constatar isso depois que ele tomou aquele chocolate quente, encheu-se de pão com mortadela e ficou mais sóbrio. Antes, eu só sentia o frio na barriga, quando vi que a intenção do coração dele era vir para cima de mim. Enquanto eu praticamente berrava: "pão e leite", ele cerrava os punhos. Acredito que num lapso de sanidade, ele constatou que não éramos do SOS Criança tão temido por ele.
O que peço ao Senhor? Se me convém pedir algo, depois de duvidar que Ele estava me protegendo, é que proteja aquele pobre menino. Pobre não pela situação desumana que ele vive, mas pelo espírito pobre e tão carente da esmola da graça. Que as mãos dele estejam abertas para receber essa esmola que Deus nunca nega em dar.
E para mim, peço misericórdia, para que eu creia mais no Deus que escolhi e sei, é o único Caminho! Perdoa-me Pai, pela fragilidade da minha fé! Obrigada Senhor, por eu não ter a menor dimensão do perigo real que corremos no Giper, pois essa noção tiraria a motivação, a liberdade e a permissão para proclamar o teu Evangelho, através do pão e do leite.

Este episódio já foi um tapa de luva, totalmente necessário.

Já chegamos ao sábado, dia 16. O dia foi tão agradável, churrasco com os amigos, projetos, planos, idéias, comunhão, pensando na melhor maneira de glorificar a Deus através do Congresso de Jovens, em setembro. As coisas dEle não podem ser bagunçadas, essa consciência nos faz passar horas juntos, semanalmente, buscando o melhor.
Mas...chegando em casa, recebo o pedido de socorro da Shinelle.
Sabe quem é a Shinelle?
Até pouco tempo eu também não saberia dizer.

Vizualize comigo: uma caribenha caminha todos os dias em frente a igreja...um dia ela resolve chegar. Justamente naquele dia, o culto não era lá, mas na Presbiteriana, e todos já tinham ido. Então, o porteiro avisa para que ela vá no dia seguinte, e ela, pelo miraculoso toque do Espírito Santo, está lá no outro dia. O próprio Espírito Santo já preparou alguém para recebe-la lá. Essa pessoa é a Kaly. A Kaly a convence a esperar uma carona que as leve para a Presbiteriana. Quando eu chego na presbiteriana, encontro a Kaly com aquela menina com sorrisão aberto, com um nome que demorei um bom tempo para assimilar. Ela é do Caribe, mas onde fica o Caribe? Ela é de uma das ilhas do Caribe, Trinidad e Tobago, país pelo qual vibrei nas Olimpíadas quando vi ganhar a prata no atletismo. Depois de esclarecer que ela não morava com Kaly, mas tinha surgido assim, como quem não quer nada, aprendemos a amá-la, entendê-la com seu sotaque muito divertido, a rir da sua risada até hoje, quando demoramos a entender o que ela quer dizer, estamos aprendendo um pouco da cultura de "mi país", como ela mesma diz. De lá para cá, algumas coisas aconteceram, como o dia que todos choraram ao vê-la se entregando a Cristo, e acompanhar cada um dos seus passos na vida cristã.

Shinelle ficou alguns dias desaparecida, estudando muito, motivo pela qual ela está morando aqui no Brasil.
Até que ela pediu socorro. Num email que apenas quem convive com ela saberia traduzir, seu português mal escrito naquelas linhas denunciam que seu estado não é bom.
O culto da juventude naquele sábado seria um dos mais divertidos desse ano, o lançamento do Congresso, uma imatação de reality show...Sem chance! Isso é insignificante quando você sabe que uma amiga está precisando de ajuda. Amiga, por um laço de amor que o Senhor deu.
Uma pausa para mais um medo.
Teria que ficar sozinha no Pronto Socorro com ela, sem saber o que estava a nossa espera lá.
Mais uma vez, o Senhor e sua infinita misericórdia, tocou o coração da Frida e da Kaly para que estivessem juntas nessa empreitada. E lá fomos nós, deixando para trás um culto especial para aprender a dar culto a Deus de outras formas, fora das limitações daquele terreno.
Chegamos na casa da Shinelle, e o nosso coração se quebrou. Como nossa amiga, tão alegre, com um sorriso único que é sua marca, ficou naquele estado? Culpa por não ter feito nada antes, medo do que poderia acontecer, esperança no cuidado de Deus.
De lá fomos direto para o Pronto Socorro, que como sempre, está cheio. Fomos aconselhadas a ir para casa e voltar mais tarde, quando teria menos gente, e o atendimento seria mais rápido.
Ilusão, tudo é ilusão...assim dizia o sábio em Eclesiastes.
Ficamos aqui em casa, por ser mais perto do Pronto Socorro. Comemos, pois nós estávamos saudáveis e com nossos estômagos humanos gritantes de fome!! Shinelle bebeu um chá, num ato de Sacerdote do lar, vi meu pai, abençoando aquela amiga como abençoa seus próprios filhos, minha mãe, cuidando dela como cuida dos seus próprios filhos, as amigas, cuidando dela como cuidam dos próprios irmãos, o Yoshi espiando na porta, comovido, como se comove com seus próprios donos. Estavam todos comovidos pela mesma causa.
Então, deu a hora de voltarmos para o Pronto Socorro, e lá fomos nós.
Fizemos a ficha, com toda "boa" vontade do atendente, isso por volta de 23:30...e esperamos.
Esperamos.

Esperamos.


Esperamos.



Esperamos.




Sabe-se Deus que horas ela seria atendida.
Acompanhamos casos que nunca havia presenciado nos meus 21 anos.
A mulher que estava perdendo o bebê, com seu acompanhante frouxo que apenas chorava.
A senhora que dormia na cadeira, sem a menor dignidade, depois de viver tantos anos, esperando pelo atendimento da filha
O homem que esbravejava para si a raiva pelas nossas conversas enquanto também tentava dormir no banco.
O rapaz que furou a perna com a faca.
O homem, que nunca saberei que rosto tem, pois a única parte do seu rosto que não estava enfaixada era a boca, e foi só por isso que ele conseguiu passar todos os seus dados para dar entrada e ter o atendimento.
As mulheres que julgamos, com olhos carnais e bocas maldizentes, serem prostitutas.
Também vimos a mulher que se aproximava de cada pessoa para descobrir o motivo de estar lá.
A garota dos pés descalços que brigou com o guarda, junto com o seu namorado...e a amiga, que o guarda não entendia, estava "sem condições", era o que a amiga dizia.
Recebemos conselhos do guarda que pensou sermos Seicho-no-ie.
Recebemos consolo de uma, talvez enfermeira, que já havia atendido casos pesados naquela mesma noite.

E Shinelle lá, esperando, esperando, esperando...definhando.
Até o momento que ela dá um grito, até hoje sem tradução (francês, português, inglês?? Ninguém sabe), foi um grito de desespero, de quem chama pela mãe quando as forças estão quase se acabando. E nós, nem reagimos depois de tanta espera.

Fomos e voltamos ao encontro do senhor que chamava pelos que seriam atendidos. O nome dela lá, no final da lista.

Tivemos momentos de revolta, com a frieza dos guardas, dos atendentes, dos médicos.
Quando Shinelle finalmente foi chamada para a sala de espera, nos aproximamos dos guardas.
Eles não permitiram que entrássemos, mesmo alegando que o português dela era ruim.
Então conversamos com os guardas e entendemos o quão humanos eles são, assistimos os jogos olímpicos na micro televisãozinha. E dessa vez tomamos partido deles.
Não deve ser fácil passar a noite em claro naquele lugar, nem na companhia daquela santinha, dentro de um santuário muito mal feito e brega, com águas escorrendo sem parar. Talvez aquela santinha seja a esperança de muita gente sem esperança.
E na madrugada, o Senhor nos deu esperança.
Num biscoitinho perdido na bolsa, que disfarçou a fome.
Com canções de louvor que vieram a nossa memória e que nos alegraram, nos deram novo ânimo...e que, particularmente, me ensinou a louvar a Deus em qualquer lugar, mesmo que este lugar seja de frente para a santinha e suas águas correntes.
Cansadas, exaustas, com frio, ninguém mais estava acordado naquele lugar, apenas nós, na esperança de que nossa amiga voltasse boa lá de dentro, recebemos um Salmo de conformo.
E começamos a ler...e fomos entendendo a mensagem que o Pai tinha para nós.

"Ó Senhor Deus, eu te chamei quando estava em profundo desespero.
Escuta o meu grito, ó Senhor!
Ouve o meu pedido de socorro.
Se tu tivesses feito uma lista dos nossos pecados, quem escaparia da condenação?
Mas tu nos perdoas, e por isso nós te tememos.
Eu aguardo ansioso a ajuda do Senhor, e confio na sua palavra.
Eu espero pelo Senhor, mais do que os vigias esperam o amanhecer, mais do os vigias esperam o nascer do sol.
Povo de Israel, ponha a sua esperança em Deus, o Senhor, porque o seu amor é fiel, e ele sempre está disposto a salvar. Ele salvará Israel, o seu povo, de todos os seus pecados".
Salmo 130

Shinelle veio lá de dentro, caiu deitada no banco duro, dopada de remédios e esperando o resultado dos exames...e o tempo passou.
Saímos de lá às 5h da manhã. Esperando o nascer do sol.
Depois de pronfundos aprendizados, eu estava sem entender quase nada, sem imaginar a profundidade e o impacto que aquela noite havia gerado em mim.
O que seria da minha vida se eu não esperasse pelo Senhor?
Hoje glorifico a Ele, porque mesmo que eu nunca compreenda a profundidade do seu amor, eu posso sentí-lo, e mesmo errante, posso transmití-lo.
E assim a vida tem seguido seu rumo.

Shinelle não melhorou, está lá no seu apartamento sozinha, mas sabendo que se a esperança dela não estiver no Senhor, sua vida não vale a pena. Sabendo que Ele está no controle e que sabe mais do que ela mesma, a profundidade das dores que ela tem sentido. Sabendo que é pelo amor de Deus que estamos de alguma forma tentando ajudá-la, mesmo que não sejamos capazes de quase nada. E em nada me glorio, pois há muito mais para ser feito, há muitas falhas, há total impotência, que eu, miserável que sou, jamais poderei fazer, só a graça, só a graça do meu Pai lá do Céu e também da Terra!

Um post tão longo assim, que esperei longos dias para conseguir traduzir de dentro do meu coração e mesmo assim, ainda é pouco para expressar.
Obrigada, meu Pai, pela tua providência, cuidado, zelo, misericórdia, graça, por tudo que consome meu coração e me firma dia após dia em Ti e consolida minha fé.

*Palavras não passam de palha, se comparadas a realidade*


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Geralmente os colapsos conduzem a notáveis avanços".
Mary Michael O'Shaugnessy

Estou com vontade de compartilhar muitas coisas...
Desde o Encontro Ágape, passando pelo último Giper, até a noite no Pronto Socorro.
Infelizmente, nunca existirão palavras para dizer o que só sei sentir, e qualquer palavra que eu tente usar, apenas empobrecerá o sentimento sentido e vivido nos últimos tempos.

Sei que chegará o dia em que conseguirei escrever um pouco melhor, para que os que lerem cada palavra, captem mais do que sentimentos, possam sentir os odores, as cores, o clima, o amor que não se acaba.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Ele cura os que têm o coração partido e trata dos seus ferimentos".
Salmos 147.3

domingo, 10 de agosto de 2008

Pra onde fugirei??

*Caos*

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

"Plus ça change, plus c'est la meme chose".
(Quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas)

"L'amour de Dieu est folie".
(O amor de Deus é desatino)

terça-feira, 5 de agosto de 2008



Estou em busca de algo que ouvidos não ouviram,
Que olho algum jamais viu,
Que nunca chegou ao coração humano.
É o que Deus tem para mim.
E hoje é só o primeiro dia,
Do resto dos meus dias,
E será que eu enfrento o que for preciso?
E esse é o último dia,
Dos fingimentos,
Dos sofrimentos,
Dos lamentos,
Porque amanhã é um novo dia,
De novos desafios.
Buscando coragem para enfrentar qualquer situação.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


A juventude não é um período de tempo. É um estado de espírito, um resultado da vontade, uma qualidade da imaginação, uma vitória da coragem sobre a timidez, do gosto pela aventura sobre o amor ao conforto. Um homem não precisa ficar velho porque viveu um determinado número de anos. Os anos podem enrugar a sua pele, mas o desertar dos ideais enruga a alma. As preocupações, os medos, as dúvidas e o desespero são os inimigos que devagar nos fazem prostrar em direção à terra e transformam-nos em poeira antes da morte. A sua vontade permanece jovem enquanto você está aberto para o que é belo, bom e grande; receptivo para as mensagens de outros homens e mulheres, da natureza e de Deus. Se um dia você se tornar amargo, pessimista e consumido pelo desespero, Deus tenha piedade da sua alma de velho.

Gen. Douglas MacArthur