sábado, 31 de janeiro de 2009

Paradoxos


Quando tenho meus surtos de sinceridade, reconheço que sou um amontoado de paradoxos. Creio e duvido, encho-me de esperança e fico desalentado, amo e odeio, fico mal quando devo me sentir bem, sinto-me culpado por não me sentir culpado. Confio e desconfio. Ajo com transparência e ainda assim embarco em dissimulações. Aristóteles afirmou que sou um animal racional; eu diria que sou um anjo com a incrível capacidade de armazenar vícios.
Viver pela graça implica reconhecer toda a história da minha vida, o lado iluminado junto com o lado obscuro. Ao admitir meu lado sombrio, aprendo sobre quem sou e sobre o que significa a graça de Deus. Como dizia Thomas Merton: "Santo não é aquele que é bom, mas o que experimenta a bondade de Deus".

Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade.
João 17.19


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Prosseguindo nos meus dias de compartilhar as minhas leituras... Escrevo aí a leitura diária do Brennan Manning, de um maltrapilho para um maltrapilha como eu, e para quem se considerar maltrapilho como nós. Extraído do livro "Meditações para Maltrapilhos", dia 29 de janeiro.

Foi uma palavra muito parecida comigo, e que falou bastante.
Tudo o que eu disser será prolixo.

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Sobre os dias pantaneiros, eles tem sido tranquilos.
Talvez vivendo de verdade o significado de férias.
Os documentos da faculdade não chegaram.
A vizinha disse que acupuntura está "na moda" aqui, me senti estranha com esse comentário, mas tudo bem, já ouvi palavras mais estranhas do que essas.
A busca pela igreja continua. Mais um final de semana, e as visitas continuarão.
Conhecemos o vizinho pastor que já morou na casa onde estamos, foi bom, ele é querido por todos da quadra.
Por falar em casa, cremos que agora não choverá mais aqui dentro. Estamos alimentando pássaros no quintal.
Ontem percebi que morei 11 anos em casa com quintal e 11 anos em casas sem quintal. Estou voltando aos dias de área verde em casa.

Espero ansiosa o início das aulas e conhecer pessoas.
Espero minha viagem para Araçatuba em março.
Espero aprender a pegar ônibus aqui.
Espero conseguir uma clínica para trabalhar.
Espero encontrar uma igreja para frequentar.
Espero conseguir ler alguns livros.
Espero conseguir me livrar da última caixa que ainda tenho no quarto.

Mas nada disso se compara a espera pelo céu.
Vou continuar esperando.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Jovens Perseguidos

Na última madrugada li sobre um movimento chamado Shockwave, organizado pelo Underground (Portas Abertas). Uma grande onda de oração, no mundo inteiro, onde jovens clamam por outros jovens perseguidos, durante um final de semana. Esse ano será do dia 6 ao dia 8 de março.
Tocou meu coração.

A verdade é que missões é sempre um assunto incômodo para o meu coração...

“Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês mesmos estivessem sendo maltratados”.
Hebreus 13.3

Eu sei que qualquer palavra que eu disser não vai representar quase nada do que meu coração está sentindo. O misto de constrangimento, vergonha, impotência, fraqueza, falta de fé... Resumindo, gente como eu, da minha idade ou menos, precisa no mínimo das minhas orações e muitas vezes 1 minuto parece muito para mim, mas é pouco para quem precisa sentir a segurança do Senhor durante uma vida inteira de perseguições. As histórias reais (resumidas) que postarei aqui foram retiradas do site do Underground, onde também tem informações sobre o Shockwave. Não é para comover ou fazer chorar, é para trazer alguma mudança de vida ou ampliar a visão, tirando do próprio umbigo sujo e olhando para uma multidão de pessoas que também servem ao mesmo Deus que eu.
(www.underground.org.br)
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Paquistão: Seis homens não identificados assaltaram um povoado no Paquistão, na noite de 10 de janeiro. Quando eles perceberam que um dos donos da casa que roubavam era cristão, eles estupraram uma garota de 14 anos em frente aos pais dela, só para afrontar sua fé.
Os seis homens, armados, arrombaram duas casas muçulmanas e três casas cristãs. Depois de assaltarem as casas, eles voltaram para a casa de Rafiq Masih e começaram a ofender ele e sua esposa, só por serem cristãos. Não satisfeitos com os estragos já feitos, eles amarraram o casal e estupraram a filha adolescente.
Os criminosos abandonaram Naomi inconsciente e em situação crítica, depois escaparam com os itens roubados. Naomi foi levada imediatamente para o hospital.
Ore para que Deus dê forças para a família, e para que a justiça seja feita.


Bangladesh: Meu nome é Elina, tenho 13 anos. Moro em Bangladesh. Moro em uma vila onde a maioria de nossos vizinhos são muçulmanos. Meu pai ama falar sobre Jesus com nossos vizinhos e é o pastor de nossa igreja local.
Meu pai recebeu muitas ameaças de alguns muçulmanos de nossa vila.
Para punir meu pai, em 2 de maio de 2008, um grupo de homens tirou-me de minha casa às 3h da manhã. Estupraram-me repetidamente e deixaram-me para morrer inconsciente na porta de minha casa.
Isso aconteceu comigo apenas porque minha família segue a Jesus.
É muito difícil entender o que aconteceu comigo. Tenho dificuldades para sair de casa, porque estou muito assustada com tudo o que aconteceu. No momento, voltei pra escola e sofro preconceito, pois todos sabem o que aconteceu comigo.
Por favor, você pode orar por mim? Por favor, lembre-se do meu nome: Elina Das. Represento
os cristãos de Bangladesh cuja devoção a Jesus Cristo pode ser custosa.


Turquia: Oi, sou Miriam. Tenho oito anos de idade. Moro com minha mãe Susanne, minha irmã
Michel e meu irmão Lukas, em Malatya, na Turquia. Na verdade, somos alemães, não turcos. Meus pais foram missionários aqui.
A Turquia é um país muçulmano, menos de 1% da população que vive aqui é cristã.
Em 18 de abril de 2007, meu pai, Tilmann, foi trabalhar em seu escritório na Casa Publicadora Cristã em Malatya e não voltou mais pra casa.
Ele foi assassinado ao lado de dois outros homens, Necati Aydin e Ugur Yuksel, por cinco muçulmanos. Os assassinos pensaram que meu pai, Necati e Ugur, estavam atacando o Islã.
Na verdade, ele não atacou ninguém. Ele era tão gentil, quieto e tímido. Ele amava Jesus e nos amava tanto!
Perguntei a minha mãe se podíamos visitar os homens que o mataram na prisão. Queria dar-lhes uma Bíblia para que pudessem ler e conhecer a Jesus por eles mesmos. Então, um dia, quando
morrerem, iriam para o céu e pediriam desculpas a meu pai, Necati e Ugur pelo que fizeram.
Por favor, você poderia orar por mim, minha irmã e meu irmão? Sentimos muito a falta de meu pai. É difícil estar em nosso lugar. Amamos Jesus e nossa fé Nele permanece firme! Ore para que
sempre fique firme! Por favor, lembre-se de nossos nomes: Miriam, Michel e Lukas Geske.


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Incomode seu coração com esse tipo de problema!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Igreja em Gaza



"Todos sofrem, mas compadeço-me em especial das crianças durante esse momento difícil", disse um líder cristão, compartilhando com a Porta Abertas sobre a situação caótica em Gaza.
Ele disse: "As crianças acordam no meio da noite, chorando ou gritando de medo com as memórias que voltam à sua mente. Num confronto anterior, caiu um foguete bem em frente à nossa casa. Muitas crianças foram traumatizadas por conflitos anteriores em Gaza. Elas viram corpos espalhados nas ruas em que costumavam brincar. Agora, tudo acontece de novo".
O líder da igreja acrescenta: "O barulho dos bombardeios é aterrorizante. Às vezes, chamo-os de 'a grande voz' porque são continuos. Você sempre ouve o barulho e nunca sabe qual edifício será o próximo a ser atingido".
Em um email, Suhad Massad, esposa do pastor Hanna Massad e líder do ministério Sociedade Bíblica em Gaza, escreveu: "A igreja (Batista de Gaza) foi danificada quando a delegacia em frente ao prédio da igreja foi bombardeada. Nesse ataque, 40 pessoas morreram, mas a igreja só teve alguns danos. As janelas da biblioteca quebraram, mas nenhum membro da igreja se machucou".
O andar térreo do prédio da igreja (que tem mais cinco andares) foi danificado pela explosão.
O líder cristão acrescenta: "Felizmente, nenhum membro da igreja foi ferido, pois todos estavam em casa. Quase ninguém tem coragem de sair de casa, não se atrevem a ir a qualquer lugar".
Estima-se que há atualmente 2.500 cristãos em Gaza. Em dezembro, muitas famílias tentaram sair da cidade para visitar parentes e amigos na Cisjordânia, a fim de celebrar o natal e fugir do conflito. Mas, de acordo com Suhad Massad: "Só os idosos receberam autorização para sair. Muitas pessoas de 18 a 35 anos não puderam deixar Gaza. Por isso, várias famílias estão separadas, o que é muito difícil. Pauline Ayyad (viúva de Rami Ayyad, gerente da Sociedade Bíblica de Gaza, morto em 7 de outubro de 2007) e seus filhos saíram da cidade em 27 de dezembro, e estão na Cisjordânia no momento".
O outro cristão comenta: "Os que estão em Gaza, por vezes, não tem idéia do que está acontecendo. Muitas vezes ficam sem energia elétrica e, conseqüentemente, sem rádio, televisão ou internet. As pessoas telefonam para familiares e amigos que vivem fora de Gaza para se manterem atualizados sobre a situação da própria cidade".


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Vontade de compartilhar um pouco do que tenho lido nos últimos dias.
Estou profundamente triste com o acidente na igreja Renascer, igreja que eu tenho um carinho enorme e que escândalo algum pode tirar.
A igreja de Gaza que comove meu coração com notícias como esta, postada aqui.
E tantas outras leituras sobre serviço, paixão e dedicação.

Uma nota oficial da igreja Renascer também trouxe grande incomodo ao meu coração, talvez uma extrema emoção . Durante a tragédia, a correria do resgate, os curiosos especulando, as televisões noticiando, jovens da igreja Universal do Reino de Deus (exatamente), estiveram lá levando água, lanche e orações para as pessoas que trabalhavam no salvamento. Esse é o tipo de informação que não dá ibope, mas movidos pelo amor do Senhor, pessoas ficaram preocupadas não só com os feridos, mas com os que trabalhavam e levaram suprimentos materiais e apoio espiritual.

Pequenas atitudes que mudam o mundo, mudam conceitos, mudam pensamentos.
Os irmãos da Universal pertencem a uma seita? Eles vão para o céu só porque derão comida e água em meio à tragédia? Essas perguntas, sinceramente, perderam totalmente a importância.
O telhado da Renascer caiu porque não foi feita a manutenção? O apóstolo e a bispa são ladrões? Não me importa saber a resposta.
A guerra vai acabar? Israel, Ismael, quem vai ganhar? Todos sabemos que nunca haverá paz lá, porque então gritamos que queremos paz?

O meu telhado é o mais remendado, mais sem manutenção que existe. É o mais corroído pelo cupim do pecado e mais reforçado com barras de orgulho e hipocrisia espiritual.
Sou a maior ladra que existe quando pego todas as bençãos possíveis e saio correndo, fugindo do dono de todas elas!
Crio meus proprios rituais e mitos ao longo dos anos, cultivo minhas próprias idolatrias muito mais do que o copo d'água sobre a televisão e a rosa vermelha da terapia do amor.
Como falar em paz quando a busca por guerras está dentro do próprio meio cristão? Quando chamo para a briga meu irmão achando que ele está errado e eu com autoridade posso humilhá-lo pelos corredores da igreja.

Que tristeza.
Minha casa destelhada não é nada, mesmo que pareça muito.
Como disse o pastor Guisseppe: se você dorme 8 horas, comece a dormir 6.
É tempo de aproveitar os sofrimentos para gerar crescimento.
É tempo de aproveitar os dias para amadurecimento.
É tempo de usar as experiências como preparação dos dias que hão de vir.
É tempo de calar e ouvir o que vem do alto.
É tempo de falar sobre as coisas do alto aqui embaixo.
É tempo de usufruir bem desse tempo.

É tempo de eu ficar bem quietinha com minhas opiniões infudadas e ouvir o coração do Mestre que bate por mim, na mesma intensidade que bate para qualquer ser humano na face da terra, seja qual for a placa que ele carrega no pescoço...
É tempo de tirar o pé que ainda me firma no chão e confiar no colo do Pai.

Não são as respostas de perguntas que me levarão para perto dEle. É o meu coração unido ao coração dEle, que nunca desistiu de mim.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Existem momentos na vida que não dá para explicar.
Outros seria melhor nem comentar.

Já passei por dias triste de tão feliz, e triste de tão triste.

Muitas vezes pensei que era o fim, mas não foi.

Determinados dias meus olhos brilharam como as estrelas por lembrar de alguém, que até hoje não sei quem é.
Senti o meu coração menos comigo e mais com outro, que não conheci.

Desejei momentos pela eternidade, e alguns tenho eternos até hoje em mim.

Respirei o mais fundo que pude os fragmentos de uma vida, já ri e chorei, juntei os cacos e montei uma história, um roteiro, um conto, um lugar cheio de encantos.


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Resolvi dar uma modificada aqui, para passar o tempo, já que não consigo dormir, e porque eu realmente estava querendo mudar um pouquinho.
Hoje foi um dia difícil, e ao mesmo tempo tão importante.

Começou com o não conseguir dormir até cansar de olhar para o relógio às 5:50. Depois ficar até tarde virando na cama ouvindo as batidas no telhado e as telhas jogadas quebrando no chão. E assim o dia passou.
Fui para o centro, mesmo sem saber nome de ruas, onde ficam as lojas, e mais, sem saber que o dia prometia ser de calor escaldante! E foi. Se não morresse de sono, seria de calor.
Antes de sair de casa estava uma correria em busca de telhas, porque o modelo das destruídas não existia mais. Quando cheguei em casa as telhas novas ainda não haviam chegado.

E começou a correria... As nuvens se aproximando, os primeiros pingos caindo, as telhas sendo guardadas na garagem e a casa embrulhada para presente na lona preta.
Sim, a casa está enrolada em lona, se chover será um desastre... Já bastou o vento e as batidas da última madrugada. A família vai ter que encarar mais uma noite, desta vez com a casa inteira coberta pela lona e orando para que não chova, fique só no vento.

Deve ter sido por desafios desse tipo que o casamento dos meus pais sobreviveram todos esses 28 anos. Bodas comemoradas assim, com uma casa embrulhada para presente, vivendo um momento de tensão e estresse, um tempo de dependência do Senhor, o mesmo que fez o milagre de morarmos aqui hoje.
Comentário da noite: o que é um telhado se comparado aos 28 de um casamento?

E nessas horas entendo Cantares quando diz: o ciúme é cruel como a sepultura, mas o amor... é forte como a morte!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


Estive pensando nas minhas mensagens subliminares.
Nos meus posts com mensagens nas entrelinhas, e nas linhas que não escrevo.

Estive pensando nos meus amores não revelados, ou amores não amados.

As histórias desta vida, muitas já esquecidas e outras marcadas em forma de cicatriz
Visíveis ou não.

Por fim, minhas histórias que muitas vezes ninguém aqui embaixo sabe.
Através de palavras desconhecidas, quem sabe um dia lembrarei de cada uma delas.

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Bom, como blog mesmo não tenho muito para falar.

Estou muito feliz porque vou poder convidar quem eu queria para ser meu par no casamento. Basta ele aceitar. Ainda tenho tempo para isso, mas fiquei feliz com a liberdade de ter poder escolher alguém que eu amo e que poderei dividir a alegria pelos noivos, lado a lado.

Descobri um novo amor musical, em mais uma crise viciante e repetitiva das mesmas músicas. Não me arrependo, me apaixonei e vou estourar meu tímpano até cansar!! Aahh, mas o estilo nem é de arrebentar os tímpanos, que delírio, mas sei que me apaixonei pela voz desse tal Thiago Grulha (pelo sobrenome também).

Revi vídeos que estavam esquecidos, aprendi um pouco sobre os raios, revi a disposição das coisas no meu quarto, aprendi o nome de uma rua, descobri que apesar do pão ser mais barato aqui existem outras mercadorias mais caras... Não me empolguei para ir na igreja hoje. Vou amanhã (que estranho ter várias opções de dia), e não me canso de admirar as pitangas gigantes daqui.

Sofri por saber que meu filho está em Brasília, justo quando eu fui embora, e que vamos ter que ficar mais tempo sem nos vermos... Já batemos a marca de 5 anos, não sei quantos mais vamos ter que esperar.
Sofri também com alguns segredos e pensamentos sobre pessoas.

Aahh, e me alegrei com a possibilidade de ganhar um papagaio de verdade, e me assustei quando vi o Yoshi brincando ou tentando matar o que eu creio, era uma cobra cega. Ainda bem que ele obedeceu e largou o brinquedo, foi correndo tomar o desintoxicante dele.

E assim a vida está seguindo seu rumo... No meio da multidão.

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Que a minha vida seja uma canção de paz aos olhos dos homens
Que a minha vida seja um poema de amor aos olhos dos homens
Que a minha vida seja apenas uma pena nas mãos de um grande escritor
Que escreva por mim linda, tão linda canção de valor
Que escreva com minha vida linda, tão linda


Canção de paz, faz de mim, óh Pai

Ouve o meu clamor
Eu preciso e quero ser o Teu poema de amor

Que a minha vida seja um precioso violão no tom do louvor
E que cada nota, cada acorde, sejam tocados pelas mãos do Senhor
Que a minha vida seja um grande instrumento, mas não afinado pra um só concerto
Mas para uma eterna adoração a Ti

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Enfim...sós!

Perdi a noção do tempo, do espaço, das cores, sabores, da vida.
Não sei há quanto tempo estou em silêncio, nem o que o barulho quer dizer.
Enfim, estou viva. Quantas coisas para pensar, de uma forma tão rápida, mesmo parecendo que tenho tempo para fazer minhas escolhas.

Quero voltar ao silêncio.
Ao escuro.
A calmaria.
Ao sono profundo.

A verdade é que não há mais tempo.
Melhor voltar e pisar em solo firme, olhar para frente, erguer o queixo e encarar quem quiser ser encarado.


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Os últimos dias em Brasília foram estranhos. Não tive tempo para absorver ainda, também não tive sensibilidade para chorar por eles. Ou chorei tudo que era possível na festa de despedida, porque até despedidas são em forma de festa lá.
Isso é relativamente estranho, porque chorei muito quando chegava nas cidades novas, pensando nas velhas, ou melhor, nas pessoas que ficaram nas cidades.
Não chorar talvez seja uma sensação de que ainda não estou aqui, ou de certeza que em breve estarei com os de lá. Talvez a maturidade de saber que estão logo ali, e depois de anos, a modernidade me ajuda a sobreviver a saudade que sempre me consome. Avião, internet, câmera digital, webcam, e por aí vai.

Do mesmo jeito que quando estava lá sentia saudade de outros, aqui só serviu para aumentar a quantidade de pessoas da minha cota de saudades. Vou trocar meu nome, de Talita (ou Tazita, para quem prefere assim), para Saudade. Será que acostumei com ela, já? Provavelmente não, ela sempre dói, como posso ter acostumado? Só finjo sufocá-la de vez enquando, antes que ela me sufoque.

Chegou o tempo de fazer novos planos, ter novos sonhos, ou recuperar sonhos antigos que estavam anulados por qualquer motivo.
Sinceramente, não sei por onde começar.
- Faculdade é o objetivo principal, mesmo quando eu quero sair furando as pessoas enlouquecidamente e viver para isso. Até pensei em trancar a faculdade daqui alguns semestres para viajar pelos países místicos, mas fundamentais e especiais para o meu coração. Agora sonho com eles, com os passos que darei, mesmo dormindo, em terras hoje tão distantes de mim.
- Igreja é sempre algo estranho, ainda mais quando se tem intimidade com essa "vida de crente". Qualquer lugar que chegar já dá pra imaginar quais os tipos de problemas, as imperfeições e os conflitos, só pelo tom da pregação. Queria deixar de lado esse espírito, mas acho que não consigo. Sei que preciso encontrar uma para
ir, não sei em quanto tempo vou conseguir isso, mas confesso, estou sem a menor pressa. Os dias aqui são longos demais para eu querer apressar qualquer coisa.
- Minha necessidade mais gritante é concluir meu quarto. Talvez a única parte não terminada dessa casa. Ainda existem caixas espalhadas pelo chão, tristeza ao ver meus livros como inúteis jogados pela falta de lugar onde guardá-los. Também o pensamento de "porque ter tanto o que guardar", mas são minhas memórias, não posso me desfazer delas, não agora. Afinal, são as lembranças mais próximas de períodos e pessoas que amo, e sempre estão longe. Só quero ter meu quarto arrumado logo, com letras chinesas espalhadas pela parede e a lanterna no alto. Pelo menos já tem um painelzinho de fotos, o que me deixa mais familiarizada. E o porta-retrato com minhas fotos em Brasília, para onde olho e abro um sorri
so, mesmo que leve, lembrando os bons dias (ou maus), mas dias fundamentais que passei lá.

E é isso. Os dias estão passando. Aqui é tudo assim, tão diferente.
Sotaque, pessoas, sons, vizinhos... Quem sabe um dia me acostume com isso. Ou quem sabe nunca me acostumarei a ficar no mesmo lugar.

Chorei quando fui convidada para ser madrinha de um casamento.
Estou contando os dias para minha ida em Araçatuba.
Ri e balancei com a possibilidade do acampamento com "macarrão".

Dos dias de estrada, ficaram as paisagens, que nem sempre a lente riscada da câmera consegue perceber.
Ficaram também as histórias engraçadas ou extremamente decepcionantes da viagem em família.
Também restou uma coxa preta do sol.

Preciso olhar para frente, mesmo não olhando para trás.
Confesso meu medo, medo de repetir algo que já vivi. E consola saber que meu refúgio está mais perto do que da vez anterior. E é bom saber que deu para crescer um pouco de lá para cá.
2009 promete, eu sei que sim. Vou esperar o melhor, mesmo sabendo que precisarei encarar o pior para chegar em algum lugar.
Não prometo ficar mais quieta, nem ficar menos tempo em frente ao computador.
Não prometo ser mais santa, ou que irei estudar mais.
Se eu conseguir ser Talita, já estarei feliz.

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Cedo ou tarde, a gente vai se encontrar.
(eu sei que vai!!)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009


Minha última semana em Brasília, contagem regressiva para pegar as malas e ir...
Sair voando pelo mundo para conquistar mais um lugar, e espero, ser conquistada por ele.

Nos últimos anos tem sido diferente.
...
Quando saí de Araçatuba, pensei que ia morrer de tristeza.
Quando saí de Alegrete, meu coração quase parou.
E agora, como será sair daqui?

Sensações novas sempre. Mudança... inclusive nos sentimentos.
Finalmente entendi porque tive aquela virose que me obrigou a vir aqui.
Chegou o dia de compreender porque me apaixonei por um lugar que não era meu.
Consegui ler o que Deus escreveu para mim, desde a primeira vez que eu sonhei em vir morar aqui.
E vim morar logo quando eu não queria, logo quando minha vida parecia ter encontrado um rumo.

Eu é que sei as lágrimas que derramei nos primeiros meses aqui.
Senti mais forte do que qualquer um a dor de trancar a faculdade que eu passei 2 anos tentando entrar.
Meu coração estraçalhado, fui eu que tive que juntar os cacos.

Mais estranho é que, cada dia que passo me surpreendo mais com Deus, e sua paciência comigo.
Mesmo sabendo que Ele faz muito mais do que eu peço ou penso, mesmo sabendo que seus caminhos são infindáveis, eu fico surpresa, fico arrepiada, encho meus olhos de lágrimas, eu rio.

Agora é fácil ver que aquela virose, aquele coração partido, aquele curso, aquelas discussões com meus pais... tudo cooperou para o bem. Tudo cooperou para que Ele me deixasse bem.

Vou embora agora, vivendo mais uma novidade em minha vida.
Já sinto saudades, mas no fim das contas meu nome é saudade, pois não existe um lugar no mundo onde eu não sinta ela. Sinto imensa gratidão pelas pessoas que me amaram por esse tempo. Sinto alegria por ver o projeto de Deus mais uma vez virando a página para recomeçar. Sinto euforia e medo pela universidade que terei que encarar, na verdade eu queria férias, mas é impossível. Estou prazerosa por ir para um lugar perto de lá, perto de cá...Perto é apenas uma maneira de dizer "menos longe". É tão bom pensar que as pessoas que eu amo estarão na nova casa em breve.
Enfim, ao mesmo tempo que quero chorar eu quero rir.
Sei que sair daqui será uma maneira de aprender também que as coisas caminham perfeitamente com ou sem minha presença.

Sou grata a Deus, por me permitir viver mais uma vez essa explosão dentro de mim.