domingo, 3 de abril de 2011

Verdades


As verdades que ninguém alivia para mim,
... eu oculto
... eu alivio
... eu poupo os outros.

Os problemas que todos explodem em cima de mim,
... eu seguro
... eu não explodo
... eu resolvo.

As derrotas que caem nas minhas mãos,
... eu aguento
... eu não falo
... eu aceito.

Os gritos que vêm até mim,
... eu ensurdeço
... eu abaixo o tom
... eu não respondo.

A pressa que corre na minha direção,
... eu desvio
... eu tento não correr
... eu freio.

As funções que não são minhas,
... eu faço
... eu fico sem tempo
... eu cumpro prazos.

Eu vivo a loucura dos viventes, tentando não enlouquecer mais ninguém além de mim.
Eu sei de verdades que ninguém quer ver. Eu sei de mentiras que todos fingem acreditar.
Eu descubro em pequenos detalhes, grandes mistérios que, algumas vezes, eu não queria saber.
Eu ouço palavras que não são ditas com a voz, mas se eu verbalizar, serei tratada como ré e não testemunha.
Vejo olhos arregalados, gritos, pessoas correndo sem orientação. Preciso me manter em equilíbrio.
Se eu falho, sou crucificada. Se eu acerto, era apenas uma obrigação. A obrigação de não errar nunca, de fazer o máximo sempre.
Leio o ódio no olhar, vejo a ruga da frustração, sinto o desespero nas palavras.
Percebo a inocência, ou o mais profundo fingimento de quem acredita em verdades que nunca existiram. A crença nas mentiras mais dolorosas e enganosas que possam existir.
Se minha boca se abrir e falar a verdade sobre tais mentiras, eu serei a mentirosa, a invejosa, a ciumenta, a interesseira...
Eu ouço fofocas, opiniões contraditórias, fingimentos, dos quais não posso compactuar... de um meio em que não posso me livrar.
Eu olho o relógio e ele passa rápido e devagar. O dia acaba e ainda há muito o que fazer. O dia acaba, e ainda não é o dia seguinte, como deveria ser.

Eu sei que falar não resolve problemas.
Eu sei que calar não resolve problemas.
Eu sei que em breve tudo não terá mais significado algum.
Eu sei que nada muda, mesmo quando fingem que mudaram.
Eu sei que tentam me enganar, como se eu não soubesse calcular, nem que seja usando o celular.
Eu sei que tudo pode piorar ou melhorar, e eu preciso manter o equilíbrio.
Eu sei que quem adoece sou eu.
Eu sei que quem sabe o tamanho da dor sou eu.
Eu sei que quem sente o gosto da fome sou eu.
Eu sei que quem paga as dívidas sou eu.
Eu sei que quem vai ouvir, cuidar, freiar ou correr, sou eu.
Eu sei que tudo continua igual mesmo quando eu finjo não estar ouvindo.

Talvez as mentiras mudem de boca,
Talvez os olhos se arregalem em outra face,
Talvez o queixo trema em outra pessoa a chorar,
Talvez a pobreza atinja outra carteira,
Talvez os gritos saiam de outra garganta,
Talvez os pés que corram sejam de outras pernas,
Talvez a falsidade se expresse em outro corpo...
Talvez.

E se, talvez, eu não enlouquecer, espero manter o equilíbrio.
Espero não esquecer de onde vem a Paz.
Desejo não me contaminar e não deixar que as raízes da maldade de uma realidade negativa invadam meu coração.
Desejo não deixar de ouvir o silêncio em meio a histeria.
No meio da multidão que corre, não perder o caminho para onde estou indo, mesmo quando viro a esquina esperando me encontrar e acabo perdida, mais uma vez.

Eu só não quero esquecer de onde eu vim...
... e para onde eu vou!