quinta-feira, 17 de abril de 2008

*Tempo*



"Tempo, tempo, tempo...
Desapareça!"






Olha como você era,
Que sentimento estranho é esse que sinto quando te observo você agora?
Algo confunso que desperta a idéia de que em breve os seus pêlos brancos serão os meus cabelos brancos,
Que me faz pensar que hoje você participou de mais da metade do que eu vivi...em breve eu viverei ao lado de alguém mais do que eu acredito agüentar.

Isso...se o amanhã chegar. Se a roda-viva do tempo não parar.

É triste ver suas patas falharem, como um dia os meus joelhos também vão fraquejar.
A sua dificuldade em subir na cama, como um dia eu sentirei para subir um degrau.
Os seus dentes quase inexistentes, como pode acontecer com os meus se eu não cuidar.

Mas é tão bom olhar suas fotos, antigas e atuais, e ver que existem histórias para contar, existe alegria, existe emoção, existe mais do que a vida de um cão, existe uma lição de vida.

É mais do que ler "Marley e Eu" e chorar dentro do ônibus, é ver você todos os dias fazendo parte da minha história, indo me espiar no quarto, correndo atrás da bolinha sozinho até alguém se comover à brincar com você, ficar com a pata levantada esperando o almoço e resmungando enquanto todos falam em volta da mesa e não reparam em você. É sentir as suas cutucadas com o fucinho gelado, repreender seu choro quando o interfone toca, e ficar triste junto com você quando lembramos a morte do seu filho, da sua mãe...

É bom olhar para trás e ver que, se eu não aproveitei a vida, você aproveitou. Roubou pizza e bolo quando teve vontade, dormiu no sofá quando sentiu sono, mordeu quando te irritaram, sofreu quando te deixamos sozinho, fugiu quando encontrou um amor...

Quem sabe um dia eu aprenda que emoções são feitas para serem sentidas!
Quem sabe um dia eu entenda que sentimentos não são motivos de vergonha.
Quem sabe um dia eu coma toda geladeira sem culpa, mas porque eu realmente estava com vontade de comer.
Quem sabe um dia eu passe o dia inteiro dormindo porque é o que meu corpo quer, mas eu penso que sempre tem algo importante, ou mais importante que o meu descanso.
Quem sabe um dia eu consiga dizer "não" quando eu realmente quero dizer NÃO.
Quem sabe um dia eu chore sem me preocupar com o que podem pensar de mim, sem pensar se choro por alegria, por manha, por tristeza, por raiva ou apenas para lavar os olhos.
Quem sabe um dia eu entenda muito do que você pode me ensinar. Muito do que a "irracionalidade" animal pode mostrar a "racionalidade" humana...ou seria o inverso?

E eu espero ter tempo, como você está tendo.
Para aprender, para viver, para escrever história, para marcar a história, para deixar boas lembranças, para ser lembrado por alguém, seja pela brincadeira com a bolinha azul, seja pela mordida expressando indignação...

E se eu tiver tempo, espero não ter remorso algum de não ter respeitado a sua velhice, as suas manias, as suas caduquices.

Hoje, Deus usou um cachorrinho, marronzinho, velhinho, fedido, rabugento para me ensinar que as coisas simples da vida passam, e passam depressa, num piscar de olhos o corpo forte enfraquece, a juventude acaba, as vistas escurecem, os ouvidos ensurdecem, e o que eu vou levar disso tudo?

Levar, eu sei que nada...
Deixar? Espero deixar marcas como esse pequeno Yoshi deixa todos os dias.
E peço ao Senhor, para que me ensine as coisas simples da vida, e para que minha vida não seja como a de qualquer um, mas seja a diferença nesse mundo de cão!


2 comentários:

margareth abi disse...

é muito lindo tudo que tu escreveu, realmente o yosh deixa uma grande lição de vida, alias todos cachorros que eu conheço... são amigos sempre.

luciana disse...

Linda a deticatória que fizeste ao Yoshi.Ele fez sua estória,fez acontecer,deixa marcas que serão para sempre eternizadas por todos nós que o conhecemos e gostavamos muito dele.Foi um amigo fiel...